A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, falou pela primeira vez sobre os episódios de assédio e importunação sexual que teria sofrido por parte do ex-ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, exonerado após o escândalo revelado no início de setembro. A declaração foi feita em uma entrevista à revista Veja, na qual a ministra compartilhou detalhes do que enfrentou durante quase dois anos.
Anielle contou que os primeiros sinais de assédio começaram no período de transição do governo, com insinuações veladas, seguidas de comentários sexistas, convites inadequados e, por fim, toques não consentidos. A ministra explicou que permaneceu em silêncio por vergonha e medo de não ser levada a sério: “Ficamos com medo do descrédito, dos julgamentos, como se o que aconteceu fosse culpa nossa”, afirmou.
Ela também contou que foi vítima de importunação sexual: “É importante deixar claro que o que aconteceu comigo foi um crime de importunação sexual. […] A gente está falando de um conjunto de atos inadequados e violentos, sem consentimento e reciprocidade, que, infelizmente, mulheres do mundo inteiro vivenciam diariamente”.
Ao longo da entrevista, a ministra ressaltou que falar sobre a situação ainda é um desafio: “Ninguém se sente à vontade pra relatar uma violência”, disse, reiterando a necessidade de romper o silêncio para impedir que mais mulheres sejam vítimas. “Não podemos normalizar uma situação como essa, independentemente de quem a pratique”.
Anielle optou por não entrar em detalhes sobre o que viveu, enfatizando a importância de preservar as investigações em andamento. “Falei todo o necessário nas instâncias devidas. Publicamente, não quero entrar em detalhes […] Traumas não são entretenimento”, declarou.
A ministra também compartilhou sua dificuldade inicial em processar o que aconteceu, dizendo que, por um tempo, tentou acreditar que estava enganada. “Quis acreditar que não era real, até entender o que estava acontecendo. Fiquei sem dormir várias noites. Eu só queria trabalhar e focar na minha missão, mas não conseguia”, desabafou.
Ela admitiu que se culpou pela falta de reação imediata, refletindo sobre como se sentiu vulnerável: “Me pergunto por que não reagi na hora, por que não denunciei imediatamente. Me culpei muito, e essas dúvidas ficaram me assombrando”, disse.
Após a divulgação do caso, Anielle afirmou que se sentiu ainda mais vulnerável, mencionando a pressão dos jornalistas e a forma como as notícias foram divulgadas. “Nenhuma vítima de violência tem a obrigação de se expor. As vítimas têm de falar na hora em que se sentirem confortáveis”, destacou.
Sobre o apoio que recebeu da primeira-dama do Brasil, Janja, a ministra afirmou que a demonstração de solidariedade, simbolizada por uma foto em que Janja beija sua testa, representou mais do que um gesto de amizade. “A postagem simboliza uma manifestação de apoio e de compromisso com a agenda de proteção às mulheres, de tolerância zero à violência e à opressão”, concluiu.
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