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Opinião

03/02/2023

A princesinha

Uma das minhas lembranças mais ricas é a da Princesinha em Macau. Era uma espécie de banca de jornais, mas não essas convencionais, em bunker no meio da rua. Era um pequeno comércio, na lateral da igreja matriz de Nossa Senhora da Conceição. Eu, menina de parcos recursos, me deslumbrava com aquela infinidade de itens, papéis coloridos, dispostos no balcão e em prateleiras. Era divertido subir os degraus da igreja, descer, atravessar a rua, voltar, subir de novo – exercício que só apraz a almas infantis. As revistas da época eram um objeto de desejo, fora de alcance para minhas possibilidades: Capricho, Bizz, Querida, Atrevida. Depois, já me achando adulta, queria ler Claudia, Nova etc. Havia também as de “adulto”, como Veja, IstoÉ... Mas o que me encantavam mesmo eram os álbuns de figurinhas. Quanta magia pegar aqueles pacotinhos, abri-los, ver os cromos, colá-los nos quadradinhos! Lembro que havia alguns álbuns que eram premiados, dos quais se podiam ganhar bonecas, carrinhos e outros mimos de pequena importância.

Dia desses, passei na rua onde ficava a Princesinha. Não havia mais nada no local. Era ela que dava vivacidade àquela rua, tão ausente de comércios e pessoas. Naquele instante, me senti uma menina, agora podendo comprar quantas revistas e saquinhos de figurinhas quisesse. Mas o balcão está vazio e o lugar perdeu as cores. Tudo esmaeceu num passado salgado e longínquo, amarelado na gaveta das lembranças.

 

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