Em minha casa, há flores artificiais, algumas delas de plástico. Mas eu não gosto delas. Suporto-as, apenas. Tolero sua presença por terem sido plantadas por minha mãe, que as cultiva e as adora. Minha mãe possui a habilidade de confeccionar lindos arranjos de flores, harmonizados em cores e texturas e muito bonitos, por sinal. Somente por isso, por esse fino e forte laço afetivo, mantenho-as em minha sala.
Eu não gosto de flores de plástico. Um dia, me veio a revelação memorialística de onde vem essa cisma: do pequeno quintal na esquina da rua Princesa Isabel. Nossa casa era comprida, de arquitetura duvidosa, mais parecida com um grande e largo beco. Havia um quintal entre a cozinha e o banheiro. Em dias de chuva ou tarde da noite, era uma verdadeira aventura ir ao banheiro. Mas, sobre as flores, falemos.
Sem muito esforço, e de olhos bem abertos, rememoro uma bacia de plástico com uma mistura de água e sabão. Minha mãe, periodicamente a cada fim de ano, mergulhava umas flores plásticas, de um rosa estranho, dentro dessa mistura. Aquilo ficava de molho um tempo, cabendo a mim a tarefa de lavá-las e pô-las pra secar. Eu, claro, fugia desse encargo entediante e sem sentido. Com o passar da esponja, as pétalas se soltavam, o que tornava tudo mais improdutivo. Não seria mais fácil, mais colorido, mais alegre e mais vida confeccionar um arranjo de flores de verdade? Hoje, compreendo que, mais que preguiça infantil, era desconfortável. Aquelas flores de plástico me levavam a outro momento incômodo da minha vida, mais pretérito-mais-que-perfeito ainda. Mas isso é matéria para outro jardim.
Talvez as flores que conservo em minha casa permaneçam lá por muito tempo. É uma concessão que faço em nome do afeto materno. Aos demais, rogo: não me deem flores artificiais, de qualquer espécie.
Gosto mesmo é de, todo dia, a cada nascer de manhã, deparar-me com florzinhas amarelas, laranjas, vermelhas e a branquitude das xananas do meu jardim. Essas, embora pereçam e murchem, não morrem jamais.
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