Estamos vivendo mais um tempo de agito eleitoral. E também de reeleição, em inúmeros casos. Mais uma oportunidade para refletir sobre este recurso, criado nos anos 90 para permitir a continuidade do mandato do então presidente Fernando Henrique Cardoso e, a partir dali, dos de tantos outros chefes de Executivo — estaduais e municipais também.
Estava aberta a Caixa de Pandora na política brasileira.
O que se viu desde então, e descontadas as exceções que confirmam a regra, foi um saldo desfavorável para o país de modo geral e, em particular, para Estados e para as cidades com mais de 200 mil eleitores, onde a reeleição é aplicada.
Sempre poderão perguntar: “mas quatro anos são suficientes para um gestor público desenvolver suas ações, tendo muitas vezes que consertar estragos deixados pelo antecessor?” Não, não são suficientes, na modesta visão manifestada aqui neste espaço. É um prazo curto. Porém, há boas soluções para essa questão, na forma de projetos já apresentados para estabelecer o fim da reeleição e uma extensão de mandatos para cinco anos. Ocorre que não saem do lugar.
O “sistema” hoje dominante na política nacional, incluindo direita, esquerda e centro, prefere deixar tudo como está. Mantém o modelo atual. Mesmo que, na imensa maioria dos casos, vejamos gestores priorizando quase que completamente sua manutenção no cargo, ao invés das ações administrativas. Tudo para, num eventual segundo mandato consecutivo, não demonstrar a mesma “motivação administrativa” para realizar ou consolidar políticas públicas. Com a reeleição já garantida, liga-se o “modo acomodação” ou, pior, o “modo depredação”. Pior para a população, que precisa de quatro anos para ter nova oportunidade de fazer uma outra escolha.
É claro que não dá para generalizar e que há casos de boas gestões renovadas em Brasília e no Brasil. Mas, novamente no limitado ponto de vista aqui exposto, são uma minoria, infelizmente. O mais comum, muito mais comum, é vermos o segundo mandato com um desempenho pior que o primeiro. Com mais cobranças, o que é natural, e com menos empenho de quem exerce o poder, o que não deveria ser natural e, ao contrário, é um claro indicativo de que, assim como tantas outras coisas, a reeleição não funciona no Brasil.
Em tese, a reeleição é uma ótima ferramenta, até para premiar as boas gestões e permitir que elas se prolonguem. Em vários países, dá certo. No Brasil, não vem dando. Por isso, é hora da população e dos eleitores fazerem sua reflexão sobre o processo reeleitoral. E cobrarem dos políticos que façam o mesmo, exigindo ao fim que acabem com a reeleição e fechando a Caixa de Pandora que, por aqui, só beneficia aos interesses de poucos.
©2022 Dido Informação com Opinião. Todos os direitos reservados