Estamos na véspera de mais um Dia da Independência do Brasil. Ou melhor, não apenas “mais um”. Será o 200º celebrado pelos brasileiros. Deveria ser assim, pelo menos.
Infelizmente, não será.
O clima de beligerância política, muito acima do tom, lamentavelmente tirou de cena o espírito cívico que deveria tomar conta do Brasil no bicentenário comemorativo de sua emancipação da coroa portuguesa.
Ao invés de orgulho por uma efeméride tão relevante, o que se vê na parcela da população que cultiva o bom senso em sua visão de país é a predominância de outros dois sentimentos: o desapontamento por mais uma oportunidade perdida de exaltar uma saudável (e verdadeira) chama patriótica e o temor pelo que pode acontecer nas semanas que virão, com a proximidade cada vez maior da eleição.
São preocupantes as notícias dando conta de que o radicalismo continua sendo alimentado. A Polícia Militar do Distrito Federal, por exemplo, teve que antecipar ontem os bloqueios no acesso à Esplanada dos Ministérios, ao perceber que o espaço já estava sendo ocupado desde o fim de semana por caminhões e ônibus, em movimento organizado por seguidores do presidente Jair Bolsonaro.
Há ainda manifestações sendo convocadas por todo o país — no RN também. Todas, sem exceção, de cores nitidamente político-partidárias. Cores das mais diversas, diga-se. Nenhuma, também é válido ressaltar, associada ao sentimento originalmente suscitado pelo Sete de Setembro. O objetivo de cada uma é apenas buscar o maior espaço possível para impor as colorações dos candidatos de sua preferência. Propósito eleitoreiro, portanto. Nada a ver com civismo, o que significa, em definição clássica, dedicação ao interesse público.
Resta à mesma parcela de brasileiros detentora de sensatez a torcida para que o Sete de Setembro de 2022 transcorra dentro da mais absoluta normalidade. Com liberdade para cada grupo expressar suas predileções políticas. Porém, sem causar sobressaltos, muito menos surtos extremados de violência. Chega a soar como pieguice falar nesses termos, mas o ideal é mesmo que a temperatura política no Brasil baixe a partir de agora, ao invés de ser mais elevada.
Entre independência ou morte, fiquemos apenas com a primeira.
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